Revista Intervalo, 183 (10 a 16-07-1966)
Fazendo dupla com Dedé, Renato Aragão é considerado um dos melhores cômicos da TV. A sua simples presença no video afrouxa os músculos da face, prepara a bôca para as gargalhadas. É ele quem vem hoje contar sua história. E a inicia contando que, na sua numerosa familia, surgiu quase como um intruso. Sua máscara, entre cínica e inocente, é figura querida na TV. E suas trapalhadas, ao lado de Dedé, fazem sorrir um público infantil cuja idade limite está entre os 80 e os 100 anos de idade.
Antes de mim eram sete irmãos. Até que um dia mamãe falou: A cegonha vem por aí trazendo mais um. Foi um Deus nos acuda. Devido à idade avançada dos meus pais, ninguém queria que eu viesse. Os irmãos diziam que já não era mais um filho, era um neto que a cegonha ia trazer. Meu irmão mais velho apanhou uma espingarda, foi para a janela e ficou olhando para o céu e dizendo: Se aparecer uma cegonha por aqui, eu juro que vou comer cegonha assada. A minha irmã, mais velha, acalmou todo mundo, dizendo que talvez nascesse um caçulinha bem bonitinho.
No dia 13 de janeiro de 1935, nasci na cidade de Sobral, Ceará. Trouxe mais uma decepção para todos. Nasci tão feio que mamãe não sabia nem de que lado dava palmadas. Durante a minha adolescência, tornei-me o mais querido dos irmãos. Tentei ser vendedor, propagandista, comerciante, bancário, pilôto civil... nada. Eu não dava para nada na vida. Sentia-me tão frustrado que tinha vontade de morder as minhas próprias orelhas. Entrei para o CPOR. Fiquei gostando da vida militar. Estava no segundo ano, quando o comandante da Região veio fazer uma inspeção no quartel. Escondi-me lá atrás, quando o general disse: Vocé mesmo, que está se escondendo lá atrás. E o então general Castelo Branco féz uma pergunta sôbre carros de combate e o recruta Renato Aragão respondeu certo. Se eu soubesse que êle viria a ser o Presidente da República, teria pedido um autografo ali.
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