Matéria de 20 de Agosto de 1975


CARLOS A. GOUVEIA


De advogado de um banco do Nordeste a humorista de televisão, cinema e teatro, para Renato Aragão, foi anenas um passo, um rápido passo. Ele garante que as duas profissões estão muito ligadas, pois, segundo seu ponto de vista, o advogado dos dias de hoje não passa de um experiente ator.
Essa mudança aconteceu há alguns anos, quando Aragão fez um teste para diretor de TV. Para orientar os artistas, teve que representar, e quem assistiu viu nele a vocação de humonsta, muito mais do que diretor e mais ainda do que advogado. Apesar do sucesso que envolve todas as suas realizações, tais como o programa semanal que faz na TV-Tupi— "Os Trapalhões", filmes para cinemas e shows em cidades do interior, Aragão, com sua simplicidade, se lamenta: "Pois é, eu já estava com a vida arrumada lá no banco. Mas as coisas estão tão boas que, se melhorarem, não vou aguentar..."
0 humorismo, na televisão, segundo Renato, passou por fases boas e ruins, e hoje está se levantando novamente: a técnica usada para a montagem de programas tem ajudado muito para que "Os Trapalhões" tenha conseguido seu intento. É lider de audiência no horário, segundo a Tupi.
"Do programa de auditório à técnica de gravação, o amadorismo está deixando definitivamente a televisão. As vezes repetimos a gravação até ficar boa. É cansativo mas compensa. Sou totalmente a favor da gravação, mesmo sentindo falta do calor do auditório, pois na gravação chegamos bem perto da perfeição."
Renato Aragão disse que preferiu fazer um programa sem auditório, usando somente a claque. Esta é formada por cerca de 20 pessoas que têm a função de dar gargalhadas. sob a orientação de um 
assistente de produção. Renato diz que a claque só ajuda:

"Além de criar um clima favorável ao telespectador e sobretudo incentivá-lo para que participe mais do espetáculo, tornando o quadro mais alegre, a claque pode me mostrar qual o ponto do quadro que eu posso explorar mais, prolongar a anedota ou os gestos."
 

Mas, segundo alguns assistentes da produção, a claquete tem seu ponto negativo, que é encobrir a piada com as risadas, rir na hora errada tornando as palavras ininteligíveis e também causar certa irritação no telespectador pela artificialidade das risadas. Segundo esses mesmos assistentes, cada componente da claque recebe, llquldo, Cr$ 31,00 por mais de 12 horas de gravação.
 

Renato Aragão está contente com as pesquisas de audiência alcançada em seu programa: "Antes atingíamos somente a classe "C" e as crianças. Agora, a classe "A", que tanto nos desprezava, está nos dando "ibope". A verdade é que muita gente tinha ou tem vergonha de dizer que nos assiste, acha que isso revela baixo nível."
 

A grande dificuldade que Aragão diz encontrar é a mesma de todos os humoristas: a renovação das piadas. Ele mesmo conda: "A piada é sempre uma estréia. 0 cantor grava uma música e vai cantando até cansar, mas no campo humrístico não se pode contar a mesma anedota duas vezes." Renato revela que em seu programa existe uma equipe para escrever as piadas, havendo redatores para cada tipo de público: "Tenho redatores para escrever para as classes "A" e "B", outro para a "C", mais um para as crianças. É a única maneira para attingirmos o público, em geral. E tem funcionado".

Renato Aragão: "0 cinema nocional está cheio de filmes apelativos"

0 humorista vê um juturo brflhante para a televisão brasileira: "A nossa TV está madura, já "tirou as fraldas", possuindo uma programação séria. Viajo todos os anos para os Estados Unidos para aprender alguma coisa a mais em termos de televisão e concluí que em breve não vou precisar mais viajar. Vou aprender aqui mesmo."
 

Segundo o humorista, seu filme "0 Trapalhão na Ilha do Tesouro" bateu todos os recordes de bilheteria, no cinema. A fórmula usada por Renato é mais simples: "Enquanto o cinema nacional está empesteado de filmes eróticos e apelativos, há quatro anos eu venho fazendo filmes para crianças."  

Apesar do sucesso de seus filmes, Aragão se queixa: "0 grande problema do cinema nacional é o mercado. Quando se faz uma fita séria gastam-se no mínimo 800 mil cruzeiros que deverão ser compensados no Brasil, apenas no Brasil. 0 dinheiro? A gente só vê um pouquinho dele, pois fica quase todo com a distribuidora e com os donos dos cinemas."

0 próximo filme de "Os Trapalhões" será "Simbad
0 Marujo Trapalhão". E óbvio que Renato coloca o nome "Trapalhão" em todos os tltulos de seus filmes para ser facilmente identificável por seu público.

 

"Os Trapalhões" se reuniram em meio à década de 60. Renato Aragão, Dedé Santana, Ted Boy Marino e Vanusa formavam os "Adoráveis Trapalhões". Anos mais tarde, quando participavam do programa "Os Insociáveis", na TV-Record, Renato e Dedé substituiram Vanusa e Ted Boy por Muçum, dos Originais do Samba, e Mauro Gonçalves, um humorista que, segundo Renato, nunca teve chance e agora é suceeso.

A falta de renovação, principalmente, preocupa Renato, que afirma que há 12 anos não aparece um humorista novo e esse fato pode causar saturação no publico. Diz que se tem empenhado na procura de novos valores, mas até agora não apareceu nenhum. Uma confissão final: "Não posso fazer um programa como gostaria. As vezes tenho que fazer certas coisas que não me agradam só para atingir certas camadas. É uma pena..."

Shows pelo interior e outras capitais, televisão, cinema e discos são algumas das atividades de "Os Trapalhões" 

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