25 de Março de 1990

 

São Paulo, domingo, 25 de março de 1990


* Oito leitores se preocupou em telefonar para o ombudsman esta semana para condenar a maneira pela qual a Folha noticiou a morte do comediante Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias, dos Trapalhões, que morreu domingo passado. O jornal teria falado com a ética ao escrever que a família pediu à imprensa que a morte não fosse atribuída à Aids. Esta informação estava na primeira página na segunda-feira. Um leitor carioca foi ao ponto central - que é realmente ético. Ele não viu "sinceridade" nas intenções do jornal. De fato, ao simplesmente registrar o pedido da família, lavou-se as mãos quando a obrigação era investigar o caso para poder afirmar conclusivamente se procede à notícia de que a morte foi por Aids. Uma vez procedente - e o jornal tem meios para checar -, então, não havia por que esconder a informação do leitor, que merece saber tudo o que o jornal sabe e pode comprovar. Ao simplesmente registrar o pedido da família sem investigar a informação, o jornal feito à própria família do comediante e, pior, deixou seu leitor na dúvida.
* A Folha saiu-se também muito mal nesta semana na cobertura do assassinato de Adriana Caringi, em São Paulo, cuja casa dos pais foi invadida por um casal de assaltantes, que também morreu depois de intervenção policial. No material da Folha faltou, em detalhes, toda a história da chegada dos assaltantes, da invasão e do momento dramático do tiro disparado por um atirador de elite. Na seqüência do noticiário (a "suíte", termo francês usado no jargão para definir o acompanhamento da seqüência de um fato jornalístico), a Folha nem se preocupou em levantar os detalhes que perdeu na edição de quarta-feira. Preferiu dar um destaque desmedido para a "repercussão" do fato. Ou seja, foi ouvir algumas personalidades sobre o que achava de tudo aquilo. Era a preguiça jornalística em ação. Era momento de investigação, pesquisa com médicos legistas para saber quem havia matado Adriana. As declarações das personalidades também deveriam ser publicadas, sem dúvida, mas não como o grande destaque da página. A continuar assim, a Folha vai acabara fazendo má escola com este jornalismo "repercuti tório”.
* Aprendo na coluna do ombudsman do "Boston Globe", Robert Kiestead, que o "The New York Times", um dos jornais influentes do mundo, fez 1.457 correções de informações no ano passado. O jornal americano costuma publicar suas notas retificativas agrupadas na sua terceira página.
* No mesmo período, 1989 esta Folha registrou 208 "Erramos". Ou seja, enquanto o "The New York Times" admite em média quatro erros de informação por dia, esta Folha admite meio erro. Até a chegada do ombudsman, no final de setembro do ano passado, a Folha registrava 11,9 erros por mês. A partir de outubro, esta média pulou para 29 erros reconhecidos. Este ano, a média cresceu para 32 erros por mês até agora. Não estão computados nestas contas os erros de digitação e ortografia. Nem os da Folha (que o leitor sabe que são muitos 2,3 por página, cerca de 160 por dia) nem os dos “Times" que também existem em torno de 20 a 30 por dia.

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